Em 1849 o arqueólogo Henry
Layard encontrou na antiga capital dos assírios Nínive, na colina de Kuiundjik,
o palácio de Assurbanipal (884-859
a.C.), que abrigava uma biblioteca composta de milhares de volumes, os quais
constituem a chave para a compreensão de
toda a civilização assírio-babilônica. Seus volumes englobavam toda a sabedoria
do seu tempo: ocultismo – filosofia – astronomia – listas dos reis – relatos
históricos – literatura poética – canções e hinos sagrados. Composta na sua
maioria de cópias dos originais babilônicos muito mais antigos. Um tesouro de
valor incalculável que, devidamente acondicionado, partiu para a longa viagem
de Nínive á Inglaterra e ao Museu Britânico. O seu valor, porém só foi revelado
decênios mais tarde, quando se tornou possível decifrar os textos. Na época,
não havia ninguém no mundo que soubesse lê-los. Malgrado todos os esforços, as
tabuinhas permaneciam mudas. Pouco antes de 1900, nas sóbrias salas do Museu
Britânico, os velhos textos começaram a narrar de novo, após uma pausa de dois
mil e quinhentos anos, um dos mais belos poemas do antigo Oriente, a cantar
pela primeira vez para os assiriólogos a epopeia de Gilgamesh, o rei de Uruk
meio deus, meio homem.
Está escrito em acádico, a linguagem diplomática da época do rei
Assurbanipal. Este tablete é uma cópia
daquela que se encontrava na biblioteca da Babilônia no tempo do grande rei Hamurabi. Na epopeia
original, um clássico da literatura suméria, esculpido há 5 mil anos. Lemos a história de Ziusudra, um herói que
sobrevive a uma enorme enchente graças a sua devoção ao deus Enki. Esta
Divindade teria decidido destruir a humanidade, mas poupado o seu eleito e o
aconselhou a levar consigo as sementes de todos os seres vivos. Ziusudra
esperou sete dias, até soltar uma andorinha, um pombo e um corvo para verificar
se a água já havia baixado. Mil anos depois, esta lenda sumeriana ressurgiria
em um mito da Babilônia, a epopeia de Gilgamesh, relato da vida de um rei
sumério que governava a cidade de Uruk. Neste relato, idêntico ao anterior, o
personagem Ziusudra reaparece como Utnapishtim, o deus Enki como Ea. Qualquer
semelhança entre os relatos mesopotâmicos
com o do Gênesis não é considerado mera coincidência pelos
estudiosos.
A epopeia de Gilgamesh
pertence aos tesouros culturais de todas as grandes nações do antigo Oriente.
Sem dúvida a redação original desta narração, o mundo deve aos sumérios, cujo
povo erigiu a primitiva Ur. Gilgamesh, diz
a inscrição cuneiforme da tabuinha XI da Biblioteca de Nínive, está
decidido a assegurar sua imortalidade e empreende uma longa e aventurosa viagem
a fim de encontrar seu antepassado Utnapishtim, do qual espera saber o mistério
da imortalidade, que os deuses lhe conferiram. Chegando a ilha onde vive
Utnapishtim, Gilgamesh interroga-o sobre o mistério da vida e este conta-lhe que viva em Shuruppak e era um
fiel adorador do deus Ea. Quando os deuses tomaram a resolução de exterminar a
humanidade por meio de uma inundação, Ea avisou-lhe dando a seguinte ordem:
“Homem de Shuruppak: destrói tua
casa e constrói um navio. Abandona as riquezas despreza os bens e salva a vida!
Introduza toda sorte de semente de vida no navio que deves construir, as medidas
devem ser bem tomadas”.
A fim de facilitar a
comparação entre a narração bíblica com Noé e a de Gilgamesh com Utnapishtim
examine o Gênesis (capítulo 6 até 8:21;). Segue a narração babilônica:
“No quinto dia tracei sua forma., sua base media doze Iku (três mil e quinhentos metros quadrados).
Suas paredes mediam dez gar de altura cada uma (seis metros).
Dei-lhe seis andares. Joguei no forno seis sar (medida desconhecida) de
breu.
Tudo que eu tinha carreguei e
toda a sorte de semente de vida.
Coloquei no navio toda a minha família e parentela.
Toda cólera de Adad chega até o
céu, toda a claridade se transforma em escuridão.
Seis dias e seis noites sopra o vento, o dilúvio, a tempestade do sul
assola a Terra.
Quando chegou a sétimo dia, a tempestade do sul, o dilúvio, foi abatida.
O mar se acalma e fica imóvel, e toda a humanidade se transforma em
lodo.
Abri o respiradouro e a luz caiu no meu rosto. O navio pousou no monte
Nisir.
O monte Nisir prendeu o navio e não o deixou flutuar.’
Os babilônios, assírios, hititas e os egípcios, leram e contaram esta história uns aos
outros.
HERÓIS ANÔNIMOS
A verdade precisa ser
estabelecida quanto ao autor deste majestoso achado, se Henry Layard encontrou
a biblioteca de Assurbanipal, não é menos verídico que as placas contendo a
epopéia foi achada pelo seu assistente Hormuzd Hassan, honra a quem também a
merece.
Neste episódio também
sejamos justo e não esqueçamos de um outro herói anônimo. No ano de 1872 George Smith, este grande estudioso inglês
trabalhava para decifrar as placas que Hassan havia achado. Smith após
desvendar as grandes façanhas de Gilgamesh, notou que a epopeia estava
incompleta, mas o que já havia decifrado o fizera ir adiante, mesmo sabendo que
toda aquela revelação causaria uma verdadeira revolução na Inglaterra puritana
do seu tempo, inteiramente guiada pela Bíblia. Para encontrar o restante da
epopeia um verdadeiro milagre aconteceu. O jornal Daily Telegraph ofereceu um
atrativo prêmio a quem fosse a Kuiundjik procurar as placas restantes que
continham o final da epopeia.
George Smith aceitou o
desafio e um dos maiores milagres da história das escavações arqueológicas
aconteceu, Smith encontrou as placas que faltavam. Assim a narrativa que traz Utnapistim, como
Noé e a grande enchente, catástrofe esta
que depois apareceria na Bíblia como dilúvio, estava
completa. O deus Ea, amigo dos homens, revelou em sonho a seu protegido
Utanapistim, a intenção dos deuses e lhe mandou construir um barco. Esta
narrativa trouxe uma questão perturbadora para a época: a narração da Bíblia
seria uma reprodução da epopeia babilônica?
Para a maioria dos arqueólogos já não se pode atribuir as passagens do
Gênesis como uma invenção dos judeus, mas uma releitura dos mitos sumérios e assírios-babilônicos.
O GÊNESIS BÍBLICO É
UMA CÓPIA DO GÊNESIS BABILÔNICO?
Os
relatos da criação dos povos mais variados apresentam semelhanças incríveis. Isso é compreensível no caso de nações com histórico de intercâmbio –
um povo pode ter influenciado a cultura do outro, mas é especialmente
intrigante quando vemos que povos que não tiveram contato no passado possuem
relatos muito similares ao Gênesis. Os povos das ilhas da Polinésia, por exemplo tem um mito
muito similar ao relato do Gênesis: segundo um mito cosmogônico polinésio, só existiam inicialmente as águas
e as trevas. O deus supremo separou as Águas pelo poder de seu pensamento e
criou o Céu e a Terra. Ele disse: “Que
as águas se separem, que os céus se formem, que a Terra exista!"
O Gênesis
bíblico traz um relato sobre a criação muito similar ao Gênesis
babilônico conhecido por ENUMA ELISH. Este
livro tem cerca de mil linhas escritas em babilônico antigo sobre sete tábuas de argila, cada
uma com cerca de 115 a 170 linhas de texto. A maior parte do Tablete V nunca
foi recuperado, mas com exceção desta lacuna o texto está quase completo. Uma
cópia duplicada do Tablete V foi encontrada em Sultantepe, antiga Huzirina, localizada perto da moderna cidade de Şanlıurfa na Turquia. Este
épico é uma das fontes mais importantes para a compreensão da cosmovisão
babilônica, centrada na supremacia de Marduque e da
criação da humanidade para o serviço dos deuses.
Seu principal propósito original, no entanto, não é uma exposição de teologia ou teogonia, mas a
elevação de Marduque, o deus chefe da Babilônia, acima de outros deuses da
Mesopotâmia.
O ENUMA ELISH
possui várias cópias na Babilônia e Assíria. A versão da Biblioteca de
Assurbanípal data do século VII a.C. A composição do texto, provavelmente,
remonta a Idade do Bronze, nos tempos de Hamurabi ou talvez o início da era cassita (cerca
de século XVIII a XVI a.C.), embora alguns estudiosos favoreçam uma data
posterior a 1100 a.C.
Dadas as suas enormes semelhanças com a
narração bíblica do Gênesis, várias discussões têm surgido sobre qual das histórias é a original e
qual é uma adaptação à religião em causa. Para a cultura babilónica, o ENUMA
ELISH explica a origem do poder real, a sua natureza, a permanência da
instituição e a sua legitimidade. A realeza humana e terrena tem a sua origem
na realeza divina. A divindade continuará a ser o verdadeiro rei e também o
modelo a imitar pelo rei terreno. A existência de um modelo divino impõe
limites à realeza humana.
O Bereshit (Gênesis) não é só um livro
que narra a criação. O livro de Gênesis pode ser dividido em duas seções:
História Primitiva e História Patriarcal. A História Primitiva registra (1)
Criação (Gênesis 1-2), (2) a Queda do homem (Gênesis 3-5), (3) o Dilúvio
(Gênesis 6-9) e (4) a Dispersão (Gênesis capítulos 10-11). A História
Patriarcal registra as vidas de quatro grandes homens: (1) Abraão (Gênesis
12-25:8), (2) Isaque (Gênesis 21:1-35-29); (3) Jacó (Gênesis 25:21-50: 14) e
(4) José (Gênesis 30:22-50:26).
Deus criou um universo que era bom e
livre do pecado. Deus criou o homem para ter um relacionamento pessoal com Ele.
Adão e Eva pecaram e, assim, trouxeram o mal e a morte ao mundo. O mal aumentou
de forma constante em todo o mundo até que houve apenas uma família em que Deus
encontrou algo de bom. Deus enviou o Dilúvio para acabar com o mal, mas salvou
Noé, sua família e os animais da Arca. Após o Dilúvio, a humanidade começou
novamente a se multiplicar e a se espalhar por todo o mundo. Deus escolheu
Abraão, através de quem Ele criaria um povo escolhido e eventualmente o Messias
prometido. A linhagem escolhida foi passada para o filho de Abraão, Isaque, e
então ao filho de Isaque, Jacó. Deus mudou o nome de Jacó para Israel, e os
seus doze filhos tornaram-se os antepassados das doze tribos de Israel.
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