terça-feira, 27 de junho de 2017

LIÇÃO 10 - O LIVRO DO GÊNESIS (BERESHIT) E A ARQUEOLOGIA MODERNA


        Em 1849 o arqueólogo Henry Layard encontrou na antiga capital dos assírios Nínive, na colina de Kuiundjik, o palácio de Assurbanipal  (884-859 a.C.), que abrigava uma biblioteca composta de milhares de volumes, os quais constituem a chave para a compreensão  de toda a civilização assírio-babilônica. Seus volumes englobavam toda a sabedoria do seu tempo: ocultismo – filosofia – astronomia – listas dos reis – relatos históricos – literatura poética – canções e hinos sagrados. Composta na sua maioria de cópias dos originais babilônicos muito mais antigos. Um tesouro de valor incalculável que, devidamente acondicionado, partiu para a longa viagem de Nínive á Inglaterra e ao Museu Britânico. O seu valor, porém só foi revelado decênios mais tarde, quando se tornou possível decifrar os textos. Na época, não havia ninguém no mundo que soubesse lê-los. Malgrado todos os esforços, as tabuinhas permaneciam mudas. Pouco antes de 1900, nas sóbrias salas do Museu Britânico, os velhos textos começaram a narrar de novo, após uma pausa de dois mil e quinhentos anos, um dos mais belos poemas do antigo Oriente, a cantar pela primeira vez para os assiriólogos a epopeia de Gilgamesh, o rei de Uruk meio deus, meio homem.

        Está escrito em acádico, a linguagem diplomática da época do rei Assurbanipal. Este tablete  é uma cópia daquela que se encontrava na biblioteca da Babilônia  no tempo do grande rei Hamurabi. Na epopeia original, um clássico da literatura suméria, esculpido há 5 mil anos.  Lemos a história de Ziusudra, um herói que sobrevive a uma enorme enchente graças a sua devoção ao deus Enki. Esta Divindade teria decidido destruir a humanidade, mas poupado o seu eleito e o aconselhou a levar consigo as sementes de todos os seres vivos. Ziusudra esperou sete dias, até soltar uma andorinha, um pombo e um corvo para verificar se a água já havia baixado. Mil anos depois, esta lenda sumeriana ressurgiria em um mito da Babilônia, a epopeia de Gilgamesh, relato da vida de um rei sumério que governava a cidade de Uruk. Neste relato, idêntico ao anterior, o personagem Ziusudra reaparece como Utnapishtim, o deus Enki como Ea. Qualquer semelhança entre os relatos mesopotâmicos  com   o do Gênesis  não é considerado mera coincidência pelos estudiosos.
   
         A epopeia de Gilgamesh pertence aos tesouros culturais de todas as grandes nações do antigo Oriente. Sem dúvida a redação original desta narração, o mundo deve aos sumérios, cujo povo erigiu a primitiva Ur. Gilgamesh, diz  a inscrição cuneiforme da tabuinha XI da Biblioteca de Nínive, está decidido a assegurar sua imortalidade e empreende uma longa e aventurosa viagem a fim de encontrar seu antepassado Utnapishtim, do qual espera saber o mistério da imortalidade, que os deuses lhe conferiram. Chegando a ilha onde vive Utnapishtim, Gilgamesh interroga-o sobre o mistério da vida e  este conta-lhe que viva em Shuruppak e era um fiel adorador do deus Ea. Quando os deuses tomaram a resolução de exterminar a humanidade por meio de uma inundação, Ea avisou-lhe dando a seguinte ordem:

Homem de Shuruppak: destrói tua casa e constrói um navio. Abandona as riquezas despreza os bens e salva a vida! Introduza toda sorte de semente de vida no navio que deves construir, as medidas devem ser bem tomadas”.

        A fim de facilitar a comparação entre a narração bíblica com Noé e a de Gilgamesh com Utnapishtim examine o Gênesis (capítulo 6 até 8:21;). Segue a narração babilônica:

“No quinto dia tracei sua forma., sua base media doze Iku (três  mil e quinhentos metros quadrados).
Suas paredes mediam dez gar de altura cada uma (seis metros).
Dei-lhe seis andares. Joguei no forno seis sar (medida desconhecida) de breu.
Tudo que eu tinha carreguei  e toda a sorte de semente de vida.
Coloquei no navio toda a minha família e parentela.
Toda cólera  de Adad chega até o céu, toda a claridade se transforma em escuridão.
Seis dias e seis noites sopra o vento, o dilúvio, a tempestade do sul assola a Terra.
Quando chegou a sétimo dia, a tempestade do sul, o dilúvio, foi abatida.
O mar se acalma e fica imóvel, e toda a humanidade se transforma em lodo.
Abri o respiradouro e a luz caiu no meu rosto. O navio pousou no monte Nisir.
O monte Nisir prendeu o navio e não o deixou flutuar.’

Os babilônios, assírios, hititas e os egípcios,  leram e contaram esta história uns aos outros.

HERÓIS ANÔNIMOS

         A verdade precisa ser estabelecida quanto ao autor deste majestoso achado, se Henry Layard encontrou a biblioteca de Assurbanipal, não é menos verídico que as placas contendo a epopéia foi achada pelo seu assistente Hormuzd Hassan, honra a quem também a merece.

        Neste episódio também sejamos justo e não esqueçamos de um outro herói anônimo. No ano de 1872  George Smith, este grande estudioso inglês trabalhava para decifrar as placas que Hassan havia achado. Smith após desvendar as grandes façanhas de Gilgamesh, notou que a epopeia estava incompleta, mas o que já havia decifrado o fizera ir adiante, mesmo sabendo que toda aquela revelação causaria uma verdadeira revolução na Inglaterra puritana do seu tempo, inteiramente guiada pela Bíblia. Para encontrar o restante da epopeia um verdadeiro milagre aconteceu. O jornal Daily Telegraph ofereceu um atrativo prêmio a quem fosse a Kuiundjik procurar as placas restantes que continham o final da epopeia.

        George Smith aceitou o desafio e um dos maiores milagres da história das escavações arqueológicas aconteceu, Smith encontrou as placas que faltavam.  Assim a narrativa que traz Utnapistim, como Noé e a grande enchente, catástrofe esta  que depois apareceria na Bíblia como dilúvio,  estava  completa. O deus Ea, amigo dos homens, revelou em sonho a seu protegido Utanapistim, a intenção dos deuses e lhe mandou construir um barco. Esta narrativa trouxe uma questão perturbadora para a época: a narração da Bíblia seria uma reprodução da epopeia babilônica?  Para a maioria dos arqueólogos já não se pode atribuir as passagens do Gênesis como uma invenção dos judeus, mas uma releitura dos  mitos sumérios e assírios-babilônicos.

O GÊNESIS BÍBLICO É UMA CÓPIA DO GÊNESIS BABILÔNICO?

      Os relatos da criação dos povos mais variados apresentam semelhanças incríveis. Isso é compreensível no caso de nações com histórico de intercâmbio – um povo pode ter influenciado a cultura do outro, mas é especialmente intrigante quando vemos que povos que não tiveram contato no passado possuem relatos muito similares ao Gênesis. Os povos das ilhas da Polinésia, por exemplo tem um mito muito similar ao relato do Gênesis: segundo um mito cosmogônico polinésio, só existiam inicialmente as águas e as trevas. O deus supremo separou as Águas pelo poder de seu pensamento e criou o Céu e a Terra. Ele disse:  “Que as águas se separem, que os céus se formem, que a Terra exista!"

      O Gênesis  bíblico traz um relato sobre a criação muito similar ao Gênesis babilônico conhecido por ENUMA ELISH. Este livro  tem cerca de mil linhas escritas em babilônico antigo sobre sete tábuas de argila, cada uma com cerca de 115 a 170 linhas de texto. A maior parte do Tablete V nunca foi recuperado, mas com exceção desta lacuna o texto está quase completo. Uma cópia duplicada do Tablete V foi encontrada em Sultantepe, antiga Huzirina, localizada perto da moderna cidade de Şanlıurfa na Turquia. Este épico é uma das fontes mais importantes para a compreensão da cosmovisão babilônica, centrada na supremacia de Marduque e da criação da humanidade para o serviço dos deuses. Seu principal propósito original, no entanto, não é uma exposição de teologia ou teogonia, mas a elevação de Marduque, o deus chefe da Babilônia, acima de outros deuses da Mesopotâmia.

      O ENUMA ELISH possui várias cópias na Babilônia e Assíria. A versão da Biblioteca de Assurbanípal data do século VII a.C. A composição do texto, provavelmente, remonta a Idade do Bronze, nos tempos de Hamurabi ou talvez o início da era cassita (cerca de século XVIII a XVI a.C.), embora alguns estudiosos favoreçam uma data posterior a 1100 a.C.

      Dadas as suas enormes semelhanças com a narração bíblica do Gênesis, várias discussões têm surgido sobre qual das histórias é a original e qual é uma adaptação à religião em causa. Para a cultura babilónica, o ENUMA ELISH explica a origem do poder real, a sua natureza, a permanência da instituição e a sua legitimidade. A realeza humana e terrena tem a sua origem na realeza divina. A divindade continuará a ser o verdadeiro rei e também o modelo a imitar pelo rei terreno. A existência de um modelo divino impõe limites à realeza humana. 

      O Bereshit (Gênesis) não é só um livro que narra a criação. O livro de Gênesis pode ser dividido em duas seções: História Primitiva e História Patriarcal. A História Primitiva registra (1) Criação (Gênesis 1-2), (2) a Queda do homem (Gênesis 3-5), (3) o Dilúvio (Gênesis 6-9) e (4) a Dispersão (Gênesis capítulos 10-11). A História Patriarcal registra as vidas de quatro grandes homens: (1) Abraão (Gênesis 12-25:8), (2) Isaque (Gênesis 21:1-35-29); (3) Jacó (Gênesis 25:21-50: 14) e (4) José (Gênesis 30:22-50:26).

      Deus criou um universo que era bom e livre do pecado. Deus criou o homem para ter um relacionamento pessoal com Ele. Adão e Eva pecaram e, assim, trouxeram o mal e a morte ao mundo. O mal aumentou de forma constante em todo o mundo até que houve apenas uma família em que Deus encontrou algo de bom. Deus enviou o Dilúvio para acabar com o mal, mas salvou Noé, sua família e os animais da Arca. Após o Dilúvio, a humanidade começou novamente a se multiplicar e a se espalhar por todo o mundo. Deus escolheu Abraão, através de quem Ele criaria um povo escolhido e eventualmente o Messias prometido. A linhagem escolhida foi passada para o filho de Abraão, Isaque, e então ao filho de Isaque, Jacó. Deus mudou o nome de Jacó para Israel, e os seus doze filhos tornaram-se os antepassados das doze tribos de Israel.

LIÇÃO 9 - FUNDO HISTÓRICO E RELIGIOSO DO NOVO TESTAMENTO - PARTE II


                                GRUPOS RELIGIOSOS DO NOVO TESTAMENTO

Nos Evangelhos lemos sobre os sacerdotes, levitas, escribas e autoridades; de fariseus, saduceus, herodianos, samaritanos e galileus. E necessário que saibamos algo a respeito deles, quando surgiram e o sustentavam. Alguns deles apareceram no V.T. e outros no período inter-testamentario.

SACERDOTES

A palavra “sacerdote,” aparece nos Evangelhos uma dúzia de vezes e a palavra “sumo-sacerdote,” ou “principais dos sacerdotes,” 84 vezes. O sacerdócio judaico fora ordenado por Jeová no tempo de Moises, na tribo de Levi, e a função dos sacerdotes era estritamente religiosa; porem, apos o retorno do cativeiro babilônico, do tempo de Esdras e Neemias, o poder civil do estado passou as mãos dos sacerdotes, de modo que eram príncipes da região, bem como ministros da religião, e o cabeça desta ordem era o “sumo-sacerdote.” No tempo de Jesus, na sua maioria (Lc 1.5), enquanto religiosos de oficio eram carnais em espírito. Eram inimigos persistentes de Jesus, pois viam nele uma ameaça a ordem estabelecida, por isso conspiraram contra ele e foram os responsáveis intelectuais pela sua crucificação (Jo 18: 3,35).

                                                                  OS LEVITAS

Os Levitas eram descendentes de Levi. Eram aceitos no lugar dos primogênitos dos israelitas e pagavam a Arão o seu preço de redenção. Eram responsáveis pelo tabernáculo e pelo seu serviço cerimonial e não eram contados em Israel (Nm 3). São mencionados duas vezes nos Evangelhos (Lc 10:32; Jo 1:19).



OS ESCRIBAS

No tempo do N.T. os escribas eram estudantes, interpretes e professores das Escrituras Hebraicas e eram considerados de alta estima pelo povo. Eram inimigos declarados de Jesus e foram publicamente denunciados por Ele por tornarem a Palavra de Jeová sem nenhum efeito por causa de suas tradições (Mt 16:21; 21:15; 23:2; 26:3; Mc 12:28-40). Eram também chamados de interpretes da lei (Tora) (Mt 22:35; Lc 10:25; 11:45-53; 14:3).

OS FARISEUS

Os fariseus (separados) surgiram no tempo dos Macabeus e eram chamados de separatistas pelos seus inimigos por terem se separado da facção ambiciosa e política da nação. Eram os exponentes e guardas dos escritos e da lei oral. Sua crença era conservadora em distinção dos saduceus que eram mais modernistas e racionalistas. A ortodoxia religiosa deles era estéril e assim acusavam a Jesus (Mt 12:1-2; 23:1-33; Lc 6:6-7; 11:37-54; 12:1) como também a João Batista (Mt 3:7 -12)

OS SADUCEUS

Acredita-se que este nome e derivado de Zadok, o sumo-sacerdote do tempo de Salomão (I Reis 2:35). Faziam parte da facção aristocrática e política dos judeus e rivais dos fariseus. A sua crença era modernista. Negavam a existência dos espíritos, da ressurreição, e a imortalidade da alma. Alcançaram proeminência durante o tempo dos Macabeus e desapareceram depois da queda da nação judaica no ano 70 d.C., entraram em colisão com Jesus e foram condenados por Ele (Mt 16:1-12; 22:23-33).

OS HERODIANOS

Os herodianos eram um grupo mais político do que religioso. Tomaram o seu nome da família de Herodes e derivavam a sua autoridade do governo romano. Eram contrários a qualquer mudança de situação política e consideravam Jesus um revolucionário. Isto explica a forma como se aproximaram de Jesus e a sua condenação por parte Dele (Mc 3:6; 8:15; 12:13-17).


OS GALILEUS

Esta facção surgiu no norte da Palestina e foram seguidores de Judas da Galileia, o qual encabeçou uma rebelião contra a dominação estrangeira. Eram insistentes nos seus direitos e indiferentes aos direitos dos outros. Eram políticos fanáticos pelos seus direitos e até chegaram a uma violenta colisão com Pilatos (Lc 13:1-3. Os inimigos de Jesus tentaram identificá-lo e aos seus discípulos com este grupo (Mt 26:69; Mc 14:70, Lc 23:6).

OS SAMARITANOS

Os samaritanos eram uma raça misturada vivendo na província de Samaria. No ano 722 AC., Sargao II , imperador assírio, invadiu o reino do norte, Israel, cuja capital era Samaria e levou cativos os seus habitantes deixando para trás as pessoas mais pobres e fisicamente menos capazes. Mais tarde, pessoas da Babilônia, Hamate e de outras nações foram enviadas a Samaria e se misturaram com os israelitas restantes ensinando-lhes suas formas idolatras de culto. Esar-Haddon da Assíria um sacerdote da tribo de Levi, o qual habitou em Betel e lhes ensinou de novo a temer o Senhor. O resultado foi que ainda assim eles não abandonaram as suas imagens pagas. Quando em 535 AC., o segundo templo foi erguido os samaritanos ofereceram sua ajuda, a qual foi recusada (Esdras 4:1-3), o que resultou numa inveterada inimizade entre eles e os judeus ( do reino do sul-Judá), animosidade que estava em pleno vigor nos tempo de Jesus Mt 10:5; Jo 4:9). Por isso tudo devemos prestar muita atenção na passagem do leproso samaritano (Lc 17:16) e na parábola do bom samaritano (Lc 10:30-37).


OS ESSÊNIOS

Esta palavra deriva-se do grego “essenoi ou essaioi”, que por sua vez vem do símbolo egípcio “Choschen” que era usado para verter as palavras “Verdade e Luz”. Eles formavam uma seita judaica na Palestina durante o tempo de Jesus, mas não são mencionados no N.T. Nossas principais fontes de informações a respeito deles são Josefo e Philo (primeiro século), Plinio e Hipólito (segundo século). Os essênios viviam uma vida simples partilhando tudo o que tinham. Eles eram muito disciplinados, a maioria deles não era casado. O numero deles era de aproximadamente quatro mil ao todo.

Eles não participavam do serviço no templo, mas tinham um ritual próprio de purificação, guardavam o sábado e demonstravam grande veneração por Moisés. Um novo membro era aceito mediante um período comprobatório de três anos, apos os quais era exigido que este fizesse um juramento para que não revelasse aos de fora, nem as crenças nem as regras do grupo. Os essênios têm chamado a atenção publica ultimamente por causa da descoberta dos rolos do mar morto ou rolos de Qumran e por causa das escavações feitas no monastério Khirbet, onde provavelmente foram escritos.

Estes escritos e estrutura da construção dão evidencia de uma organização muito similar aos essênios. Esta estrutura foi ocupada do fim do segundo século antes de Cristo ate 135 d.C. Segundo alguns historiadores, eles estiveram em atividade durante este período. Estes escritos revelam que o povo da comunidade de Qumran eram ávidos estudantes das Escrituras Judaicas. A maioria deles pereceu com a invasão do Império Romano, os que sobreviveram e provável que tenham se tornado cristão.


DIÁSPORA (dispersão )

A palavra “diáspora,”que o corre três vezes no N.T., traduzida por dispersão (Jô 7:35; Tg 1:1; I Pe 1:1) e derivada de duas palavras gregas: speiro, que quer dizer: espalhar, com o prefixo dia, que significa: através de. As duas juntas significam “espalhados.” Moisés havia predito que se eles abandonassem a lei, seriam espalhados Lv 26:33-37; Dt 4:27-28; 28:64-68), e isto de fato se cumpriu quando os israelitas (reino do norte) foram para a Assíria em cativeiro em 722 a.C. e os judeus (reino do sul) foram levados por Nabucodonosor para Babilônia no ano de 527 a.C. A grande maioria destes não voltou para a Palestina, mas se estabeleceram nas cidades do império Grego e Romano (veja Atos 2:5; 9-11). Mais tarde, quando houve a perseguição dos cristãos, judeus convertidos espalharam-se por todo lugar (Atos 8:1,4) 11:19).

A SINAGOGA

As duas palavras gregas aqui juntas são “sun e ago,” que significam: congrega conduzir, trazer ou juntar-se. Assim sinagoga se refere ao lugar onde os judeus se reúnem. Esta instituição data do cativeiro da Babilônia, os judeus ali sentiram a necessidade de se aproximarem em pequenos grupos para reviverem suas tradições e cultura, já que distantes de sua terra não podiam mais frequentar o templo. A partir daí esta instituição começou estar presente transformou-se no ponto de encontro dos judeus no exílio. Lugar onde se reuniam para culto e instrução religiosa. Jesus estava familiarizado com a sinagoga, foi numa delas em Nazaré que Ele começou o seu ministério na Galileia (Lc 4:14-30). A palavra “sinagoga” aparece 34 vezes nos originais dos Evangelhos (Mt 4:23; 9:35; 12:9; 13:54; Jo 6:59). A frequência às sinagogas já é uma tradição de 2400 anos, sendo um importante instrumento na educação das crianças judaicas.

O SINÉDRIO

Esta é uma palavra interessante. Em grego “hedra” significa: um lugar de assentar e “hedrion” e sua forma diminutiva. “Sun” significa: junto com, dessa forma temos “sinedrion” que quer dizer: assentar-se junto com ou junta de conselho. A palavra aparece 22 vezes no N.T, das quais 8 estão nos Evangelhos, e traduzida por conselho, (uma vez), tribunal (três vezes) e sinédrio (quatro vezes). A ideia inicial deste corpo pode ser remetida ao tempo do rei Josafá (II Cr 19:8) ou ate mesmo ao tempo de Moisés (Nm 11:16,17). Nos dias de Cristo o sinédrio se constituía de:

1.    Os principais dos sacerdotes ou cabeças dos vinte e quatro cursos sacerdotais.
2.    Os escribas ou interpretes da lei.
3.    Os anciãos que eram representantes dos leigos.

        O conselho tinha setenta e dois membros, cujo presidente era o sumo-sacerdote que conservava este oficio por anos, e ate de forma vitalícia. Foi diante deste sinédrio que o nosso Senhor esteve naquela fatídica sexta-feira pela manha no palácio do sumo-sacerdote. Este foi um ato totalmente ilegal (Mt 26:57-68). O sinédrio tinha o direito de decretar a sentença de morte, mas não tinha o poder de executa-la (Jo 18:31; 19:7). Foi diante deste sinédrio que Pedro, João e Estevão permaneceram inabaláveis. (Atos 4:1-7,6:12,7:1)


LIÇÃO 8 - FUNDO HISTÓRICO E RELIGIOSO DO NOVO TESTAMENTO - PARTE I


        É absolutamente necessário reconhecer que os fatos não são continuados pelo Novo Testamento de onde o Velho Testamento o havia deixado. Quando viramos as páginas de Malaquias 4 á Mateus 1, devemos entender que cerca de 400 anos interpuseram-se, e que neste período grandes coisas aconteceram. Uma leitura atenta levar-nos-á a fazer muitas perguntas que, na sua maioria, podem ser respondidas pelo período intertestamentário. Lemos de César Augusto. Quem era ele? E de Herodes. Quem era ele? Na Palestina havia cidades trazendo nomes gregos. De onde vieram estes nomes? A linguagem dos habitantes da terra santa não era mais o hebraico. De onde veio a nova língua? No tempo do nosso Senhor o conselho oficial dos judeus era o sinédrio. Havia seitas e facções nos dias de Jesus que não existiam no V.T. como: fariseus, saduceus, escribas, essênios, herodianos. Quem eram estes? Quando foi que surgiram?

        João e Tiago falaram a respeito da dispersão. A que se referiam? Em todas as cidades judaicas havia sinagogas. De onde e por que esta instituição apareceu? O templo da época de Jesus não era mais aquele que existia no V. T. Então, este novo templo quem construiu? Nosso Senhor estava familiarizado e fazia citações das Escrituras Hebraicas. Quem reuniu estas antigas escrituras e quando? Estas respostas encontraremos se pesquisarmos atentamente o fundo histórico e religioso do N. T., bem como a transição intertestamentária. No fim do Antigo Testamento o império persa estava no poder e permaneceu assim até o ano 333 a.C. Então, pelas grandes conquistas de Alexandre o grande, o império grego surgiu e começou o seu domínio a partir do ano de 323 a.C., seu império, depois da sua morte foi dividido entre quatro dos seus generais.

        Dois destes foram Ptolomeu e Seleucos. Cada um deles iniciou uma dinastia, o primeiro no Egito e o ultimo na Síria. Ambos contenderam pelo domínio da Palestina até o ano de 167 a.C., às vezes um, às vezes o outro se tornava vitorioso. Então veio a luta sob os Macabeus para a independência nacional dos judeus no ano de 167 até 141 A.C. Neste período surgiu um governo na Palestina comandado por uma família de sacerdotes judeus descendentes da família Macabeus, também conhecidos como hasmoneus,” os quais permaneceram no poder por 78 anos (141– 63 a.C.).

         No ano de 63 a.C., o general Pompeu, o grande, invadiu a Palestina. A partir daí começava uma nova e muito importante fase da historia, principalmente para os estudiosos dos Evangelhos, já que para uma melhor compreensão de muitos aspectos do N. T., não podemos prescindir deste capitulo. Os Herodes eram de descendência dos idumeus e quando no ano de 31 a.C., César Augusto venceu Marco Antônio na batalha de Actium, o primeiro dos Herodes o procurou e recebeu de Augusto o poder para governar a Judéia, Samaria, Galiléia, Peréia e Iduméia. Ele estava no poder quando Jesus nasceu. Assim vemos neste período intertestamentário o poder mundial passar das mãos dos Medo-Persas para as mãos dos gregos de Alexandre, o grande, e dele para os romanos; de modo que a história do N.T. se desenrola sob a égide do governo romano.

OS HERODES DO NOVO TESTAMENTO

        Apresento aqui, a descrição dos Herodes dos tempos neotestamentários com alguma abundancia de pormenores. HERODES, O GRANDE, Governante dos judeus de 04 a.C. á 40 d.C., nasceu provavelmente no ano 73 a.C. Era idumeu ou edomita, isto é, descendente de Edom, um povo conquistado e levado ao judaísmo por João Hircano, cerca de 130 a.C., assim sendo, os Herodes, embora não fossem judeus de nascimento, supostamente eram judeus de religião. A religião era usada, portanto, como veiculo para fomento do governo secular, isto é, atendendo aos interesses da família dos Herodes. Herodes, o grande foi nomeado procurador da Judéia no ano 47 a.C. A Galiléia, um pouco mais tarde, também ficou debaixo do seu controle. Após o assassinato de César, Herodes desfrutou das graças de Marco Antônio. O titulo de Herodes, rei dos judeus, foi lhe dado por ele.

       Herodes opunha-se politicamente aos descendentes dos Macabeus, os quais, tendo por nome de família Hasmon, eram chamados de hasmoneanos. Estes controlavam Israel antes da dominação romana e se ressentiam do governo de Herodes. Todavia, Herodes, o grande, casou-se com uma mulher pertencente a esta família: Marianne, neta do antigo sumo-sacerdote Hircano II, embora essa medida não tenha posto fim as suspeitas dos principais hasmoneanos sobreviventes. Por isso mesmo, Herodes foi assassinando um por um, até que se livrou de todos deles, incluindo a própria Marianne e até mesmo os filhos que teve com ela. 

        SUA CRUELDADE: Foi esse Herodes que perpetrou a matança das crianças com menos de dois anos em Belém da Judéia (fato este ainda não comprovado por outras fontes históricas da época). Antes da sua morte mandou assassinar o seu filho Antipater. Também providenciou que os nobres do seu governo fossem assassinados após a sua morte para que não houvesse falta de lamentação e tristeza por ocasião da sua morte. Morreu de uma doença no estômago.

        SUAS OBRAS SOCIAIS: Por toda parte se tornou famoso por suas notáveis atividades como edificador até mesmo em cidades estrangeiras como Atenas. Em seu território edificou um porto artificial e o chamou de Cesaréia em homenagem a César. Mas a sua principal obra foi a reedificação do templo de Jerusalém que ficou ainda mais exuberante que o de Salomão, isto ele fez para apaziguar os judeus, os quais nunca lhe perderam por consumido com a família dos hasmoneanos. A edificação deste templo terminou no ano 64 d.C., mas foi destruído no ano 70 por ocasião da revolta dos judeus, quando Jerusalém foi invadida e destruída pelos romanos.

        ARQUELAU: Chamado de Herodes, o etnarca em suas moedas. Herodes, o grande, doou o seu reino a três de seus filhos. Judéia e Samaria ficaram com Arquelau (Mt 2:22). Galiléia e Peréia ficaram com Antipas. Territórios do nordeste couberam e Filipe (Lc 3:1). Arquelau era o filho mais velho de Herodes, o grande, com sua esposa samaritana Maltace.

        HERODES, O TETRARCA: também chamado de Antipas (Lc 3:19 e 9:7). Era o filho mais novo de Herodes, o grande e de Maltace. Os distritos da Galiléia e da Peréia. É lembrado nos Evangelhos por haver preso, encarcerado e executado a João Batista, bem como por causa do seu breve encontro com Jesus por ocasião do seu julgamento (Lc 23:7).

        HERODES AGRIPA: Chamado de rei Herodes em Atos 21:1. Era filho de Aristóbulo e neto de Herodes, o grande. Era sobrinho de Herodes, o tetrarca, e irmãos de Herodias. Por ofendido o imperador Tibério foi encarcerado, porem, quando este morreu voltou a liberdade. Mais tarde recebeu os territórios do nordeste da Palestina como a Galiléia e a Peréia. O imperador Cláudio aumentou os seus territórios anexando a Judéia e Samaria aos seus domínios que chegou a ter a mesma proporção do seu Avô. Mandou assassinar a Tiago, irmão de João, o discípulo amado. Sua morte súbita e horrível foi registrada por Lucas em Atos 12:23, sendo ali atribuída ao julgamento divino. Seu filhos eram Agripa, Berenice (At 25:13) e Drusila (At 24:24).

        HERODES AGRIPA II: Era jovem demais para assumir a liderança do seu pai. Mais tarde, recebeu o titulo de rei da parte dom imperador Cláudio e passou a governar o norte e o nordeste da Palestina. Nero aumentou os seus domínios de 48 á 66 d.C., ele recebeu autoridade para nomear os sumos-sacerdotes dos judeus e dos romanos, mas fracassou na tentativa. Nas paginas do N. T., seu nome é mencionado devido ao seu encontro com o apóstolo Paulo registrado em Atos 25:13; 26:32. No trecho de Atos 26:28, lemos: “Por pouco me persuades a ser cristão ”. Em algumas traduções: “Com bem pouca persuasão pensas em fazer–me cristão?” Em outras: “Estas apressado a persuadir-me a ser cristão?” Ele nunca esteve próximo disso. Morreu sem filhos cerca de 100 d.C.

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